sábado, 14 de novembro de 2009

Miragem

Os olhos da noite eram amarelos e viam o vento por dentro da cortina escura do dia cinza da cidade.
O tempo contava os dias em cores e as dores dos seres de dentro do cinza vazio com a força do verde das arvores.
O homem - aquele ser de ombros e tons pastéis - sentado em sua arrogância desenha cores em papéis cria a imagem e se funde em sua profundidade vã e mesquinha.
Aquele menino encostado no muro via a luz do lado mais escuuro sem saber, sem saber da lingua do tempo que não fala em horas, sem saber da arvore que não dá sementes, sem saber daquilo que lhe esperava na esquina egoísta.
Ele falava às coisas e ao tudo que não se podia esperar, ele falou com imagens e todo um mundo que não lhe queria falar... e aquelas horas que passavam lhe comiam invisivelmente no soturno do coração da cidade, onde vento se esconde e a noite dos olhos amarelos ilumina o verde das arvores e esconde onde o tempo se deixa contar em outra contagem... miragem!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A função da arte/1


Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
-Me ajuda a olhar!

-Livro dos abraços, Eduardo Galeano-

domingo, 8 de novembro de 2009

Travessia de Amor e Poesia!

Água
Água da calha
Água da bica
Água do sol
Água
Água da noite
Água da nuvem
Água da saudade
Água da infância
Água dos olhos
Água da bolsa rompida
Nasci
(Dulce Tupaciguara Mascarenhas, 1996)